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“Eu estou grávida”, ela disse. “Cadê a câmera escondida”, eu disse, ganhando tempo. Eu não sabia ainda que meu tempo não me pertenceria mais. Tomado de taquicardia, acabei falando: “Deve estar mesmo, olha só o tamanho desses peitos!”. Em retrospectiva, não foi a frase mais delicada.
E lá estava eu como cachorro cego que caiu do caminhão de mudança no meio de um tiroteio. Eu sabia que não estava pronto para isso. Ela perguntou quando estaria pronto e eu chutei 36. Ela riu e perguntou se eu achava que ia evoluir muito em três anos. Deveria ter chutado uns 50.
Fiquei três dias sem dormir. Antes que explodisse, comecei a escrever um blog. Era quase que uma terapia e não contei pra ninguém. Quando vi, tinha gente lendo e comentando. Descobri que existiam muitos blogs de mãe, alguns muito bons, inclusive, mas pouquíssimos de pai.
Na blogosfera, como na vida, o pai estava em segundo plano, um ser acessório e quase desnecessário. Entendi por que apareciam visitantes: as mães queriam entender o que se passa na cabeça dos desgraçados dos seus companheiros; e o pais viam que não estavam sozinhos.
Aí escrevi meu primeiro livro, Diário de um Grávido, que conta como é a gravidez sob o ponto de vista masculino. O livro saiu cheio de pânico, aflição, lágrimas e o senso de estar passando um ridículo tão grande que é até engraçado.
Da repercussão desse livro veio o próximo, Como Nascem os Pais, que traz histórias divertidas, e outras nem tanto, sobre a chegada de uma menina na vida do seu pobre pai. Aparecem pragas como os amigos piadistas a chamar você de fornecedor, os futuros pretendentes e o pior deles: o amigo futuro pretendente. “Sua filha, quando crescer, hein.” A sensação é a estar do lado errado da piada, como se tivesse acordado transformado em joãozinho ou em papagaio.
E apesar de todo o pânico e a infâmia das piadas, ser pai da Lucia foi a melhor coisa que já me aconteceu. Junto com ela veio uma para-sempre-enteada, a Maria, que tem 10 anos. Eu e a mãe dela não estamos mais juntos, mas ela vai ser sempre minha querida.
As relações entre filhos e pais estão mudando. Tem toda uma geração por aí que quer estar mais presente e nem por isso ser chamado de mãe, ou o ofensivo “pãe”. Começou, talvez, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Uma das consequências naturais foi que, com as mães mais tempo fora, os pais passaram a ter mais lugar, mesmo que em muitos momentos ele precise ser conquistado à cotoveladas.
E é isso que eu vim fazer aqui, dizer as coisas que os pais não falam ou que ninguém escuta, dizer verdades, e, claro, algumas mentiras.
Pais de Todo Mundo, Zumbi-vos!

Renato Kaufmann, pai de Lucia, 3 anos, é jornalista, escritor, publicitário e autor do blogdiariogravido.com.br. Escreva para Renato Kaufmann. E-mail:kaufmann.colunista@edglobo.com.br
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